As chocantes imagens do atropelamento coletivo de ciclistas em Porto Alegre servem de exemplo para motoristas, ciclistas, motoqueiros, pedestres. Questionado sobre o que faria se pudesse voltar no tempo, o atropelador respondeu que teria ficado em casa naquele dia. Mas não adianta fugir das ruas quando em casa está a família. Até porque não é preciso um volante para atropelar. Bastam palavras e gestos de um coração dominado pelo impulso da raiva.
Pesquisas revelam que este motorista agressivo não está sozinho. Boa parte dos brasileiros transforma-se em predador assim que agarra o volante. Uma psicóloga brasileira entrevistou 900 motoristas, e descobriu que 84% deles sentem ira enquanto dirigem. "O carro dá poder e permite o extravasamento de emoções, inclusive da raiva que se traz de casa ou do trabalho", diz um psiquiatra especialista em tráfego. Problema que, segundo ele, se agrava quando juntam três situações: o carro servindo de objeto de poder, o trânsito extravasando a raiva, e a presença de um transtorno impulsivo.
Que o carro é uma arma, isto os dados comprovam. Mais de 50 mil mortos e 500 mil feridos por ano nas avenidas do nosso país. No entanto, o que muitos não sabem é que ela está engatilhada nas mãos de qualquer motorista, de gente simples e poderosa, de gente tranquila e nervosa, de gente sã e doente. Como evitar que eu seja a próxima vítima, ou o próprio assassino? Um desafio diário e constante quando boa parte da nossa existência transita em quatro ou duas rodas.
Além de controlar um veículo, o motorista precisa controlar a si mesmo. “Deixem que o Espírito de Deus dirija a vida de vocês e não obedeçam aos desejos da natureza humana”, lembra o “código de trânsito” em Gálatas. Um destes desejos é a raiva, mas, ao enumerar os frutos na vida daqueles que são “controlados” pelo Espírito Santo, o texto finaliza com o domínio próprio. Já em outra epístola, o mesmo autor avisa: “Se vocês ficarem com raiva, não deixem que isso faça com que pequem” (Efésios 4.26). Um alerta nestas loucas avenidas entulhadas de carros e de gente estressada.
Rev. Marcos Schmidt
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS
3 de março de 2011